quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Eu tava à toa. Acho que foi aí que tudo começou

Nunca demorei tanto para escrever tão poucas palavras. Acho que não. 

Foram vários pedidos para que eu escrevesse,  de diferentes bocas e formas, com diferentes argumentos. Mas todos pediam para que eu escrevesse uma mesma coisa: o que se passa na minha cabeça. E esse é o problema.

Primeiro, porque eu não fui treinada para escrever sobre o meu conteúdo (como repórter e editora o objetivo era a fidelidade sem comentários ao conteúdo alheio). 

Segundo, porque eu não conheço o meu conteúdo - se conheço, terei que admitir que tenho medo de abrir a minha "Caixinha de Pandora".

Mas enfim... vou escrever. Claro que não sem buscar antes um respaldo em Fernando Pessoa:


XV - As Quatro Canções

As quatro canções que seguem
Separam-se de tudo o que eu penso,
Mentem a tudo o que eu sinto,
São do contrário do que eu sou ...

Escrevi-as estando doente
E por isso elas são naturais

E concordam com aquilo que sinto,
Concordam com aquilo com que não concordam ...
Estando doente devo pensar o contrário
Do que penso quando estou são.
(Senão não estaria doente),
Devo sentir o contrário do que sinto
Quando sou eu na saúde,
Devo mentir à minha natureza
De criatura que sente de certa maneira ...
Devo ser todo doente — idéias e tudo.
Quando estou doente, não estou doente para outra cousa.
Por isso essas canções que me renegam
Não são capazes de me renegar
E são a paisagem da minha alma de noite,
A mesma ao contrário ...

(O Guardador de Rebanhos - Alberto Caeiro)



Amanhã, eu continuo. Acho que este poema de Pessoa já é suficiente para meditar por muito tempo. Dependendo do seu ritmo e profundidade, por anos - como eu fiz.

  



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